«Que imagem de destaque é esta? Este blogue — Português correto — especializou-se na gramática das artes rupestres? Onde estão as belas letras A–Z do nosso alfabeto?»

Não, não estou a tentar recriar artes rupestres nem a tentar escrever o número “3” em chinês. Estes “risquinhos” confundem a escrita de muito boa gente. No parágrafo anterior estão incluídos os três: hífen, meia-risca e travessão. Consegue distingui-los? Sabe o que significam? Vamos lá à explicação.

O hífen (“-”)

O hífen é o carácter (caractere para os nossos amigos do Brasil) “polivalente” ao qual o utilizador comum normalmente recorre para desempenhar o papel dos três sinais aqui em discussão. O hífen deve ser utilizado:

Entre elementos de vocábulos compostos

  • «A empresa tem um novo diretor-executivo.»
  • «O beija-flor é um pássaro muito elegante.»
  • «Foi tomada uma decisão por parte do presidente norte-americano
  • «Já pensaste no pós-doutoramento

Entre elementos na conjugação verbal pronominal

  • «Cortei-me num dedo.»
  • «A limpeza? Fá-la-ei amanhã!»
  • «Hoje ajudo-te com essa tarefa.»

Para dividir sílabas na translineação

  • «Este telemóvel que com-
    praste tem GPS?
  • «Quando sair do trabalho ligo-
    -te para combinarmos um café.»

A meia-risca (“–”)

A meia-risca, por vezes chamada de meio-traço, é mais longa que o hífen e mais curta que o travessão. Não tem uma utilização prevista nas gramáticas de referência. No entanto, recorrendo a gramáticas estrangeiras e a sugestões de linguistas podemos encontrar um lugar para a utilização deste sinal no nosso idioma. Em particular, a meia-risca é de grande utilidade para unir sequências ou intervalos de, por exemplo, letras ou números, e, de preferência, sem recorrer a espaços:

  • «Prevejo 2–4 minutos de descontos no final da segunda parte.»
  • «Adicione 120–140 mL de água.»
  • «Consulte a página seguinte para ver os apelidos que começam por R–T
  • «Conservar a -20–4 °C

Repare no último exemplo no qual se menciona um intervalo que abrange números negativos: a mistura do sinal de negativo (casualmente, o mesmo carácter do hífen) com o sinal de ligação seria motivo de confusão e de criação de ambiguidades desnecessárias. Na verdade, todas estas frases poderiam ser reformuladas para evitar a utilização de qualquer sinal de ligação; é no entanto evidente que este sinal é de extrema utilidade em muitas situações.

O travessão (“—”)

A utilização do travessão, o carácter mais longo dos aqui discutidos, está prevista nas seguintes situações:

Assinalar o início, a alternância ou o fim do discurso direto

  • «— Deseja mais alguma coisa?
    — Não, obrigado.»
  • «— Graças a Deus — exclamou o trabalhador — já é fim de semana.»

Destacar elementos

Elementos esses não essenciais para a construção de uma frase, mas aos quais se pretende conferir uma certa importância:

  • «Gosto muito — como sempre disse — de vir a esta esplanada ver o pôr-do-sol.»
  • «O Primeiro-Ministro — António Costa — responderá às perguntas dos jornalistas.»
  • «Este analgésico — é de referir — acarreta um risco elevado de interações várias.»
  • «O computador está bem configurado — está perfeito.»

Repare que seria válida a substituição dos travessões por vírgulas; no entanto, tal substituição tornaria o texto, digamos, menos apelativo e removeria um certo grau de importância aos elementos em questão.

Atenção: o travessão não é aquele carácter no qual determinadas ferramentas de texto como o Word transformam o hífen quando este se escreve entre palavras isoladas. Esse carácter é a meia-risca! Veja as sugestões que se seguem para saber como escrever estes sinais num teclado normal:

Como escrever estes caracteres num teclado normal

Hífen: normalmente, os teclados possuem uma tecla diretamente atribuída a este sinal.

Meia-risca: Alt+0150 (com a tecla Alt premida, introduza os números referidos no teclado numérico).

Travessão: Alt+0151.

As ferramentas de edição de texto como o Word possuem atalhos simples para estes sinais: menu inserir, símbolo, mais símbolos, caracteres especiais (Word versão 2013; para outras versões do Word ou outras ferramentas, este caminho pode naturalmente variar). Poderá ainda definir regras de correção automática (no mesmo menu) para, por exemplo, sempre que escrever dois hífenes seguidos (“–”), estes serem automaticamente substituídos por um travessão.

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